Review - Velvet Goldmine
Velvet Goldmine, filme de Todd Haynes criado no fim dos anos 1990, é um tipo de musical semi-biográfico e não linear que tem como tema central a história do glam rock.
Explicando em partes: é um musical, pois realmente trata de música e de sua influência nos artistas e no público, mas diferente dos estilos de filmes musicais mais conhecidos; semi-biográfico porque faz referências claras às estrelas de rock Iggy Pop, Lou Reed e especialmente David Bowie, reproduzindo períodos de suas vidas em personagens que os representam, ainda que a história em si seja fictícia; e não linear pois mistura passado e presente, desenvolve-se com cortes e flashbacks e apresenta cenas com diferentes tempo e espaço simultaneamente.
A história é de Brian Slade, astro glam que encena a própria morte em palco, dando fim a uma carreira gloriosa. Através de Arthur Stuart, jornalista e antigo fã de Slade, nós descobrimos a vida do cantor, suas relações com as outras personagens e, ao mesmo tempo, a vida do próprio Arthur. Quem conta tudo para o jornalista são as próprias pessoas que participaram da vida de Brian, incluindo sua esposa Mandy, que relatou os pontos mais importantes da história.
É um retrato claro de “sexo, drogas e rock ‘n’ roll”, que mostra Slade com sua ascensão, extravagância e vícios, criando e perdendo fãs; seu amante, Curt Wild — que, aliás, é, na minha opinião, a personagem mais forte do filme — também passa por basicamente a mesma coisa, mas lida com tudo de forma diferente. Até mesmo Mandy reflete o resultado de toda a fama.
A ambigüidade sexual também faz parte do tema, já que é nela que se baseia a idéia dos artistas e do próprio glam rock. Cenas eróticas e românticas apresentam bi e homossexualidade naturalmente, enquanto algumas outras mostram a negação da população “não glamerizada” e seus preconceitos.
Com uma mão também na literatura, referências a Oscar Wilde foram apresentadas, constantes e ótimas, além do próprio, no começo do filme.
Para que não existiam spoilers, não irei enfatizar mais no enredo; até porque, apesar de ser muito bom, não acredito que seja o melhor do filme. O figurino chama a atenção, claro, como a extravagância dos anos 1970 sempre chamou, e as seqüências não cronológicas também, apesar de fazerem o filme ficar um pouco confuso. Mas o ápice de tudo é a trilha sonora. Obviamente isso é pessoal, já que eu sou fã do glam rock, mas de qualquer forma não há motivos para assistir o filme se não se gosta do estilo; logo, se você se interessou por ele, com certeza irá adorar as músicas presentes. Os covers são maravilhosos e as originais, nostálgicas.
As personagens são marcantes. Não há nenhuma que eu não tenha gostado. Brian é um mistério, desde sua infância até seu período pós Maxwell Demon (personagem fictício criado por ele para representar nos palcos; sim, um personagem dentro de outro); Curt é impulsivo e explosivo, da forma cativante que poucas pessoas conseguem ser; Mandy é ótima, essencial para Brian em sua vida e em sua carreira; Arthur, apesar de não ter muitos atrativos e passar uma imagem tediosa, também tem sua importância, e talvez até tivesse seu brilho, se este não fosse esmagado pelo de todo o resto.
Realmente não é um filme que agrada a todos. Então, por via das dúvidas, recomendo somente aos fãs de rock e aos que conseguem acompanhar com naturalidade uma história conturbada e diferente. Mas se você não tiver nenhuma dessas características e o filme te atrair do mesmo jeito, não há motivos para não vê-lo; porque ele é verdadeiramente atraente, como só a música consegue ser.
Personagens +
Curt Wild
Brian Slade
Mandy Slade
Personagens –
Jerry Devine
Shannon
Arthur Stuart
Frases favoritas
“Tempos, lugares, pessoas... Tudo passa correndo. Para superar essa paranóia evolutiva, pessoas estranhas são escolhidas para, através de sua arte, acelerar o progresso.”
— Mandy Slade
“Sabe, a heroína já foi tudo para mim, mas agora estou na metadona, tentando largar. E você vem aqui e diz que quer me ajudar? Eu digo, ótimo. Você pode ser tudo para mim.”
— Curt Wild
“O que é verdade sobre música é verdade sobre a vida: a beleza revela tudo, porque não expressa nada”
— Mandy Slade