Espíritos
Contra todas as probabilidades, eu não abrirei a categoria com vampiros, e sim com outro tipo de mortos: espíritos.
Todos já ouviram falar em histórias assustadoras de espíritos, em aparições das almas de pessoas já mortas. Entre todos, esse pode ser o assunto mitológico mais assustador; são poucos os que acreditam em vampiros, bruxos ou lobisomens; mas para muitos, espiritos e fantasmas não são somente mitos.
A aparição desses seres é comum; ou ao menos, a crença é. Temos que considerar que podem existir dois principais motivos para que um espírito se torne visivel, ainda que momentaneamente, para nós. O primeiro, que parece ser o mais comum, é a incapacidade da alma de partir para outro plano espiritual, e por isso permanece na Terra conosco. Mas, se pararmos para pensar, devem existir milhares de espiritos que estão entre nós; por um motivo ou outro, eles não conseguem partir. É possivel supor, então, que as aparições são de espiritos fortes, fortes o bastante para se tornarem visiveis, ou, em alguns casos, de se mostrarem através de objetos e pessoas, especialmente quando os chamamos (vide jogo do copo).
Outro possivel motivo é a vontade ou necessidade de dizer algo. Enquanto alguns espiritos não conseguem ir para um plano superior, outros não querem; ficam para tentar contar às pessoas sobre algo, às vezes algo que somente ele, como um ser desencarnado, pode saber. Daí os livros psicografados.
Eu não acredito, realmente, que muitos dos fantasmas apareçam para nos assustar. Se crê no Paraíso e no Inferno, pode até supor que isso aconteça; os espiritos malignos vêm somente para nos assombrar. Mas outros estão em seu próprio Inferno, presos à Terra por motivos que nem mesmo eles podem saber. Talvez nem sequer tenham uma consciência plana, só sentimentos e emoções. De qualquer forma, temos que entender que, como seres desencarnados, eles talvez não nos compreendam completamente. Podem, talvez, não ter a consciência de nos assustar, simplesmente porquê não têm esse sentimento. Talvez só apareçam para nós quando têm a vontade súbita e intensa de serem vistos; e nossa negação pode os afugentar ou aproximar.
Digo isso me baseando na minha concepção de espíritos e almas mortas, somente. Não falo dos vivos.
Para tentar exemplificar o que quero dizer, vou narrar um acontecimento que eu vivenciei:
Em uma noite, enquanto dormia, eu percebi que me levantei de minha cama. Havia ouvido algum barulho, e caminhava para outro cômodo para poder checar as câmeras de segurança que tenho em casa. Em poucos segundos eu percebi que não estava com meu corpo. O susto e o medo de estar fora do corpo foi tão grande que eu fui puxada novamente para dentro e acordei, apenas por um momento. O empurrão de volta foi tão intenso que, me lembro bem, eu sentia um dor no peito quando abri os olhos, exatamente onde sentia ter voltado. Suspirando pesadamente, voltei a dormir; mas dessa vez, estava decidida: se voltasse a sair do corpo, eu caminharia até o outro cômodo. E foi o que aconteceu.
Dessa vez, eu estava consciente de que deixava meu corpo e, sem olhar para trás e sem deixar que meu medo me dominasse, eu fui até onde podia ver as câmeras. Chegando lá, eu percebi que havia algo errado com a imagem. Não entendi o que acontecia, até me lembrar novamente que eu não estava realmente olhando a câmera. Lentamente, eu voltei para o quarto, e quando acordei dessa vez,, não sentia a dor no peito. Me levantei e vi a câmera, sem problemas na imagem. Voltei a dormir.
Entendem o que quero dizer com isso? Existe, dentro de nós, uma parte imaterial. Está aqui o tempo todo, e somente quando morremos é que é liberta. Se fomos pensar bem, estamos presos, na realidade; presos dentro de nós mesmos. E talvez seja esse o Paraíso, no fim das contas: a liberdade.